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No bairro que a cada dia vai se tornando um dos mais descolados de São Paulo, onde prédios de classe média e galerias de arte surgem a todo instante, jovens em busca de novidades se encontram para experimentar comida coreana.
Engana-se quem pensou em Vila Madalena ou Jardins. É na Barra Funda que o chef Paulo Shin comanda o restaurante coreano em São Paulo Komah. Dono de vários prêmios, inclusive com destaque para uma estrela do famoso guia Michelin, o restaurante foi idealizado num momento visionário.
A imigração dos coreanos para o Brasil é bem mais recente que a dos japoneses. Foi por volta de 1980 que os primeiros coreanos vindos da Coréia do Norte chegaram de navio.
Esse fato explica muita coisa, sobretudo o motivo pelo qual, até pouco tempo, muitos comércios ainda eram voltados para a própria comunidade.
De fato, uma vez entrei num restaurante que ficava na parte superior de um prédio do bairro Bom Retiro. Quando a senhora me viu disse logo que o estabelecimento estava fechado… pensei: “mas na hora do almoço”? Eu demorei a entender porque ela mal falava português. Olhei o cardápio e estava tudo escrito somente em coreano.
Realmente, os negócios concentrados principalmente no Bom Retiro tinham como público as famílias coreanas que viviam no bairro ou nas proximidades.
No entanto, essa visão dos novos empreendedores sobre o público está mudando a cada dia. E são várias razões. Primeiro, porque muitos coreanos que trabalhavam no setor têxtil estão voltando para a Coréia do Sul. A crise e a concorrência com produtos chineses são os motivadores dessa emigração.
Segundo, o sucesso da expansão cultural desenhada pelo governo coreano, como o Kpop, que exerce um poder de influência nos jovens de outros países, por meio da música, das novelas, filmes e comida. Essa estratégia fez com que jovens, fãs do K-pop, virassem ávidos curiosos por tudo que envolve a Coréia do Sul, principalmente a culinária.
Claro que são consumidores, e digo que de comida e de lugares, pois é só observar os novos grupos que frequentam o Bom Retiro aos fins de semana e que lotam os restaurantes coreanos. Por isso, desde 2017 se vê um aumento de novos cafés e restaurantes no bairro. Essa “sacada” de empresários e políticos que visam atrair mais consumidores, até rendeu um projeto bem familiar pelo mundo: a Koreatown em Sampa.
De volta ao Komah, o proprietário Paulo Shin, descendente de coreanos, percebeu logo essa necessidade de mudar esse conceito de restaurante familiar e restrito à comunidade. A experiência de trabalhar no badalado Dom, do Alex Atala, e passar um tempo em Nova Iorque, ajudou na decisão.
Shin conta que em Nova Iorque trabalhou num restaurante francês e que um dia se viu numa situação engraçada. “Um coreano brasileiro, preparando guacamole, num restaurante francês com vários mexicanos a sua volta”. Nada mais cosmopolita que essa cena.
Depois de voltar ao Brasil, já com uma experiência consolidada, ele decide abrir o restaurante Komah. Juntamente com um sócio, abriu o negócio num imóvel da família na Barra Funda.
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Vale a pena conhecer a história de um lugar e o contexto em que o restaurante foi pensado. Essas informações nos dão uma medida das transformações que a cidade de São Paulo vem passando nos últimos anos.
E já que ousei contar sobre a experiência de uma comida inovadora, autoral e cheia de sensações, aqui vai meu depoimento.
Há vários pratos coreanos e a maioria passou por algum tipo de transformação pelas mãos do chef Shin. Então se você está a fim de comer uma comida coreana tradicional, esquece o Komah porque lá é um lugar para você se surpreender.
Experimentei o menu degustação. As porções são pequenas, mas há uma boa variedade de pratos, o que torna a experiência suficiente. A entrada é uma seleção de conservas. Ao comer, você se depara com sabores marcantes, picantes e ao mesmo tempo suaves..é difícil descrever, mas são muito bons. Não sobra nada.
Depois vem o que menos eu gostei: o steak tartar coreano feito com miolo de alcatra, gema curada e pera asiática. A carne é crua, claro é um tartare, e gelada, eu diria que parecia congelada.
Mas depois desse prato o que vem é muito saboroso, como o japchae, um macarrão de batata doce com cogumelo grelhado, legumes sortidos e mel.
Seguindo comi uma panceta assada glaceada com um molho apimentado, muito bom. Acompanhava salada e arroz. O melhor de todos é o famoso Kimchi, que não é como aquele tradicional super apimentado. O sabor é suave e vem enrolado num omelete cremoso.
Quando você pensa que vai acabar o garçom aparece com uma costela bovina com molho shoyu e gengibre.
E para finalizar a sobremesa, que é uma fatia de torta de chocolate belga 70%, que é simplesmente inesquecível. A experiência no Komah não é barata, claro, mas se você gosta de experimentar novidades e sabores diferentes, vale a pena.
Gostaria de sugerir o resumo da pesquisa que terminei em 2019, intitulada “Mobilidades e Turismo urbano: estudo sobre o legado étnico da comunidade coreana no Bom Retiro (São Paulo/Brasil)” , que pode ser acessada pelo link. Para quem não curte um texto acadêmico, um breve resumo e podcast está disponível no site da Universidade de São Paulo, que você tem acesso por aqui.
Até mais🤗
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